Saturday, August 22, 2009

Encanto

O rancor tem origem na tua tristeza . Que evitas a todo custo assumir que sentes, porque ser triste é ser pobre, é ser insatisfeito, é ser cinzento, é não saber sorrir. E acabas por te deixar corroer em invejas. Pelo solitário. Porque ele é triste mas tem a felicidade de ser ele próprio, tem o mundo que é só dele, mesmo que esse mundo seja apenas uma flor. Tu nem a ti te tens. Possuis apenas o vazio profundo do teu ser, o rancor que sentes e a tristeza que estrangulas no teu coração. E a inveja pelo solitário, que sabe rir e ser mestre nos sorrisos .
Afogas-te em superficialidades pequenas para seguires Epicuro, rejeitas todos os caminhos que não te pareçam áureos. Para depois assassinares a filosofia epicurista, tentares humilhar o solitário e o seu eterno encanto , elevares-te ao nível de deus, do divino por despeito.
E morres, de desilusão, de vergonha, de rancor. Seria melhor que morresses de tristeza, como todos nos morremos, às vezes. Invejas o encanto do solitário, da forma como ele admite a sua fragilidade humana e se eleva, de uma forma inteiramente ingénua e inocente, ao nível da suprema felicidade, epicurista e existencialista. Podias ter tudo isto, se não fosses vazio, de coração e de mente, se apenas gostasses de ti como és e te aceitasses como és.
O solitário aceita e gosta . É essa a grande razão ela qual é solitário. Não precisa de nada mais. E é esse o seu misterioso encanto.

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