Friday, March 06, 2009

Sonho

É como se não pertencesses a este mundo, como se fosses um sonho bonito e azul tido durante varias noites quentes e adocicadas. E é como se me tivessem acordado de mansinho, um bocadinho cada dia; como se ainda me estivessem a acordar agora. E o sonho vai-se dispersando no calcar duro de cada dia, nos problemas que constituem a realidade. Porque realidade é isso, consciência absoluta de um problema e imaginação para o resolver.
A tua memória é tudo o que tenho guardado de bom, é o melhor que sou. Começa a desaparecer, como um sonho é esquecido durante as horas de clarividência diurnas. Acrescenta um certo tipo de desespero humano à dor da tua ausência profunda. Porque um dia, simplesmente, não farás mais falta.
Em certos reflexos, a morte é quase uma bênção.

1 comment:

Alice in Wonderland said...

Duramente triste, este teu texto.

E aos poucos todo o azul do sonho é lentamente susbituido pela acidez da realidade, enquanto te acordam de mansinho, de uma forma mais cruel ainda.

E doi-te porque foi um sonho. E doi-te porque sabes que vais esquecer. A tua consciência de realidade vai atingir esse nível, em que o sonho deixará de fazer falta.

E davas tudo para não ter essa consciência. No fundo, davas tudo para que te adormecessem.

Um dos melhores e mais duros textos que escreveste. Gostei muito!