Friday, November 28, 2008

Porto Negro

Conheci a cidade antes de te conhecer a ti e por isso o vento foi tão suave e quente como desconhecido. O negro do chão e o escuro dos monumentos definiam o meu amor oculto, a minha possibilidade de paixão inteira e honesta, mas como não existias afundou-se no vazio.
A cidade granítica define-nos, guarda-nos como adornos da sua estranha beleza nocturna, oferece-nos o seu manto de protecção gasto e rasgado.
Conheci-te e, só depois, relembrei a cidade negra com o rio negro e triste . O tempo falhou, nós falhámos, o negro ajeitou-se no coração e não te consigo olhar como dantes.
O vento avisou-me de ti, da tua chegada e da tua mudança no percurso do próprio rio. Mas não te deu nome e tu não existias, foi esquecida pela sua desconexão.
Agora é já tarde. O meu amor afunda-se contigo no rio negro que te corre nas veias. Calçada negra, céu baixo e escuro, rio cavado brilhante e nocturno, meu amor, estamos condenados a gastarmo-nos em segundos vazios e frios.
Inspirado em Adeus, de Eugénio de Andrade

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